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quarta-feira, agosto 12, 2009

Saiba mais sobre as obras expostas até 2 de maio na galeria da Embaixada do Brasil em Berlim
por Angelita Kasper

As origens do Modernismo Brasileiro

As transformações radicais pelas quais passaram as artes visuais na Europa durante as primeiras décadas do século XX -cubismo, expressionismo, dadaísmo, futurismo, surrealismo, fovismo - entraram no Brasil causando uma vigorosa corrente de renovação da arte nacional. Esses movimentos europeus, no entanto, não entraram no país como estilos já prontos, mas foram adaptados ou "antropofagiados" dando origem ao Modernismo Brasileiro. Os artistas abraçavam o Modernismo no exterior e eram, em geral, filhos da elite rural exportadora de café que dominava o país desde finais do século XIX. Ancorada no gosto pela produção artística acadêmica, sobretudo da Paris belle époque, essa elite enviava seus filhos à Europa para completar seus estudos. Retornando ao país, os jovens artistas deparavam-se com a necessidade de compassar a arte nacional com as novas tendências artísticas e buscar uma face brasileira na arte.

O estopim do Modernismo Brasileiro foi uma exposição de quadros de Anita Malfatti, em 1917, que provocou reações hostis por parte da crítica e do público. As obras apresentadas possuíam clara influência expressionista advinda de sua estada em Berlim entre 1912 e 1914, quando estudou com Lovis Corinth e Bischoff Culn, bem como do período 1915-1917, quando estudou com Homer Boss e Nova York. Monteiro Lobato, em uma crítica que ficou conhecida como "Paranóia ou mistificação", desqualificou a obra de Malfatti e atacou a artista com violência. ". Oswald de Andrade, poeta e principal figura do modernismo brasileiro, fez a defesa de Malfatti dizendo que ela desafiara o "naturalismo fotográfico", então em moda, com audaciosas e ousadas telas.A partir daí, formou-se o núcleo modernista com a adesão do pintor Di Cavalcanti e dos poetas Mário de Andrade e Guilherme de Almeida.

A primeira manifestação pública dos modernistas brasileiros foi a Semana de Arte Moderna de 1922, ocorrida no Teatro Municipal de São Paulo, da qual constaram exposições, recitais de poesia, concertos e conferências. Graça Aranha falou sobre o papel primordial da música e das artes visuais: "a música de Villa- Lobos, a escultura de Brecheret, a pintura de Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Vicente do rego Monteiro, Zina Aita" bem como a "audácia dos jovens poetas". O objetivo dos jovens artistas, era afirmar um novo nacionalismo cultural, pois o acontecimento coincidia com o centenário da Independência política do país. Tanto no discurso de Andrade na defesa de Anita Malfatti quanto no de Aranha, a ênfase está posta na audácia e não em algum novo tipo estético ou estilo surgido, dando, com isso, a impressão de que as maneiras modernistas valiam antes de tudo, pela sua capacidade de chocar e de quanto mais extravagantes melhor seriam.

Tarsila do Amaral aderiu ao grupo no ano seguinte e passou a desempenhar um papel primordial no movimento. Em Paris, a artista foi aluna de Lhote e Léger, entrou em contato com o cubismo e desenvolveu os traços relativos ao "Pau-Brasil". Junto com o poeta Oswald de Andrade, autor do Manifesto Pau-Brasil, Tarsila trabalhou o conceito de "selva e escola": uma forma de abordar o Brasil com sua cultura mulata e sua atmosfera tropical contrastando com a indústria moderna. No seu retorno ao Brasil, acompanhada de Andrade e o poeta suíço Blaise Cendrars, Tarsila realizou viagens pelo interior do país buscando explorar a cultura popular brasileira. Sob esses estímulos, passou a pintar uma nova classe de quadros: uma mescla da arte ingênua local e do cubismo que havia absorvido de Léger. Em 1928 Tarsila já havia passado a um estilo mais complexo, e foi o começo do seu período mais criativo: o da antropofagia ou canibalismo.

O conceito de Antropofagia cultural foi formulado por Oswald de Andrade no seu Manifesto Antropofágico, publicado em 1928, no primeiro número Revista de Antropofagia. O princípio central da Antropofagia era que os artistas deveriam devorar influências estrangeiras, digeri-las cuidadosamente e convertê-las em algo novo. Devorar o colonizador, apropriar-se de suas virtudes e poderes, "a transfiguração do Tabu num totem". No manifesto Andrade procurou reunir todas as contradições do brasileiro: moderno/primitivo, indústria/indolência, centralismo/regionalismo, Europa/América. "Da Revolução Francesa ao Romantismo, da Revolução Bolchevique à Revolução Surrealista (...) prosseguimos sempre em nosso caminho. Jamais fomos catequizados. Mantemo-nos através de sonolentas leis. Fizemos Cristo nascer na Bahia. Ou em Belém do Pará. Mas jamais deixamos o conceito de lógica invadir nosso meio."

Serviço:
Exposição Modernismo Brasileiro
Duração: de 4 de marco a 2 de maio de 2004
Horários de abertura: de Segunda a Sexta
09h às 13h e 14h às 17h
(Nos fins-de-semana 10-17h)

Embaixada do Brasil em Berlim
Wallstrasse
57, 10179 Berlin - Mitte

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berlin, Germany
angelita kasper was born 1977 in três passos, brazil. she studied social communication - journalism at the universidade federal do rio grande do sul in porto alegre, brazil. yet in the nineties, angelita worked as freelance journalist, photographer and artist. since 2002 she lives in berlin and took part in several local art-projects and exhibitions.