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sábado, novembro 14, 2009


Especial para o Jornal da Manhã, Ijuí, RS.

Berlim comemora 20
anos da queda do muro


Turista chinesa no famoso Checkpoint Charlie, que hoje é ponto de
visitação obrigatório para quem está de passagem por Berlim



A Alemanha e o Mundo celebraram 20 anos da queda do muro de Berlim no Portão de Brandenburgo na segunda-feira em Berlim. Apesar da chuva, cerca de cem mil berlinenses e turistas estiveram presentes na festividade. Mais de 30 antigos e atuais chefes de estado e personalidades do mundo inteiro estiveram presentes. Entre eles os presidentes da Rússia Dimitri Medwedow e da Franca Nicolas Sarkozy, o primeiro ministro britânico Gordon Brown, a secretária de estado dos Estados Unidos Hillary Clinton e o último líder da ex União Soviética Michail Gorbatschow. A chanceler alemã Ângela Merkel, que foi cidadã da Alemanha Oriental, disse que a queda do muro foi um dos momentos mais felizes da história da alemã e européia e "um dos momentos mais felizes da minha vida". Ela falou do início de uma nova época com o fim da Guerra Fria e disse ainda que a liberdade não surge por si mesma "a liberdade deve ser conquistada". O prefeito de Berlim, Klaus Wowereit, fez um apelo: derrubar agora os muros no mundo inteiro "os muros de pedra e os muros
dentro das cabeças". Tanto Merkel como Wowereit lembraram em seus discursos que o dia 9 de novembro também marca o início do capítulo mais triste da história alemã: a Noite dos Cristais, em 1938, o "ensaio geral" do holocausto que viria nos anos seguintes. Os nazistas coordenaram uma ação em massa contra os estabelecimentos pertencentes aos judeus, incendiaram sinagogas, centenas de pessoas foram mortas e milhares foram enviadas para campos de concentração.
Um dos pontos culminantes da celebração foi a queda simbólica do muro: 1000 peças de dominó superdimensionadas foram posicionadas em fila no decorrer de cerca 1,5 Km entre o Portão de Brandenburgo e Potzdamer Platz no exato lugar onde  antes passava o muro. As peças foram pintadas tematizando a história do muro por crianças, estudantes e artistas de todo o mundo. O empurrão no primeiro dominó foi dado pelo ex-sindicalista e presidente da Polônia Lech Walesa junto com o ex-presidente da Hungria Miklos Nemeth.

Beijo entre os líderes comunistas Leonid Brejnev e Eric Honecker
 O jornal Die Zeit fez uma reportagem com personalidades da política e das artes que viveram na Alemanha do Leste onde se podem ler críticas a respeito de um certo silêncio no que concerne a essa página da história alemã. Conforme a reportagem, até hoje a maioria das pessoas da Alemanha Ocidental não tem idéia de como a queda do muro colocou de ponta cabeça a biografia dos excidadãos no Leste. Trata-se de um fenômeno da reunificacao alemã, também 20 anos depois, o fato de pessoas da Alemanha Ocidental não tenham um sentimento sobre o que significou para as pessoas do Leste perder seu cotidiano. A República Federal da Alemanha celebrou em 2009 bem naturalmente e altamente oficial os seus 60 anos, como se 1989 não tivesse existido.
"Não seria o caso de se celebrar 40 anos da República Federal da Alemanha e os 20 anos da Nova Alemanha?" questiona Die Zeit. Uma das entrevistadas, a atriz alemã C. H.,  diz que responde com silêncio às perguntas que são praticamente acusações tais como "como o socialismo feriu moralmente as pessoas?". Ela responde: o que poderíamos contar ainda se os ocidentais já sabem tudo mesmo e não querem saber mais nada". A atriz conta que se sentia livre quando vivia na RDA. Depois da queda do muro, ela diz ter tido problemas porque o palco agora se parecia mais a sua cozinha, não mais os grandes temas, senão o privado, o pequeno. A chanceler alemã Ângela Merkel, ex-cidadã da RDA disse certa vez que "surgiu uma falsa impressão de que a vida na RDA e o Estado na RDA foram igualmente graves. Nós celebrávamos Natal, Páscoa e Pentecostes e tínhamos discussões e problemas familiares e alegria e diversão. Todos no oeste pensam que os do leste devem exaltar, celebrar a reunificacao alemã porque a vida deles foi tão terrível. Falta no oeste muitas vezes a curiosidade de intercambiar experiências positivas". Em algum momento a Sra. Merkel parou de fazer esse tipo de comentários, diz Die Zeit.

 Ex - Alemanha Oriental hoje: 
Trabalho: índice de desemprego é 12 %, o dobro que no Oeste. Política: 42% estão insatisfeito com a democracia e 11% muito insatisfeitos. Apenas 0,4% dos entrevistados acreditam nos políticos. Leste-Oeste: 63% dos alemães do Leste acreditam que as diferenças entre Leste e Oeste são maiores que os fatores em comum. Oeste-Leste: 50% dos alemães ocidentais nunca estiveramno Leste.  


 Atraso tecnológico foi empecilho (texto Janis Loureiro) 
Com a queda do muro e o fim do regime, o retorno da Alemanha Oriental à democracia foi doloroso. O país estava empobrecido e para os cidadãos do Leste a vida mudou de um dia para o outro. As pessoas tiveram que se adaptar a um novo sistema de leis, um novo sistema escolar, uma nova liberdade para viajar a outros países, uma nova vida de desempregado, novos preços de aluguéis, novos carros. Tudo isso penetrou fundo na vida dos cidadãos do leste enquanto os do oeste simplesmente seguiram o curso normal de suas vidas. Rudi Brust testemunhou logo após a queda do muro as diferenças entre as Alemanhas. "Eles estavam 50 anos atrasados em tecnologia", conta. Brust relata que os prédios e estruturas estavam sucateadas e a expectativa na época de recontrução em cinco
anos não se confirmou. "Os cidadãos orientais não tinham
liberdade, mas tinham emprego e comida", conta. "Por isso, muitos não conseguiram se adaptar, devido ao atraso cultural tanto que hoje dizem preferir o velho regime", avalia.
 

Crônica: 
Pedalar é pensar na velocidade ideal!

           
            Se não fosse pelo clima e algum outro detalhe, Berlim seria uma cidade quase perfeita. Poucos seres humanos, ruas espaçosas e arborizadas, parques imensos, lagos despoluídos, riqueza cultural, aluguéis baratos e ciclovias.
            Apesar do gelo, da ausência quase completa de sol durante o ano inteiro, do mau tempo e do mau humor generalizados, uma boa parte da população não se intimida e usa a bicicleta como meio de transporte durante as quatro estações. Se pode adquirir bicicletas – muitas vezes de origem duvidosa - no mercado de pulgas por até 30 euros. É sempre muito fácil acostumar-se ao que é bom e barato. E a bicicleta traz, além disso, vantagens de ordem política, econômica, ambiental, visual, auditiva, corporal e filosófica.
Se a população mundial num fenômeno de lucidez coletiva resolvesse boicotar o uso de automóveis e passasse a usar apenas o transporte público e a bicicleta, boa parte dos problemas do mundo já estariam solucionados. As emissões de gás carbônico diminuiriam, os Estados Unidos teriam uma razão a menos para invadir o Oriente Médio, a classe média viveria melhor pagando menos hipotecas, chegaríamos mais rápido ao trabalho, respiraríamos mais aliviados e morreríamos menos de infarto.
No âmbito da economia pessoal a bicicleta quita os custos com gasolina ou transporte público. O que também pode significar trabalhar um pouco menos para viver melhor. Trabalhar menos significa colaborar por um mundo menos produtivo e, em conseqüência, menos autodestrutivo.
Mesmo com o pânico clima change a mídia e os governantes do mundo inteiro, impregnados pela fé deslumbrada na sociedade hiper capitalista, continuam a omitir o mais evidente: não haverá diminuição nos níveis de contaminação de gás carbônico sem a diminuição dos níveis de consumo da população dos chamados países desenvolvidos e também subdesenvolvidos.
Há uma mirada míope sobre o conceito de qualidade de vida que passou a ser basicamente sinônimo de poder de consumo. Há um silêncio constrangedor no que diz respeito a diminuir os níveis de consumo. Consumir com prudência produtos tão simples como comida, roupa, papel, automóveis, gasolina, produtos eletrônicos, energia, água... Como vovó já dizia...
Desenvolvimento também é saber olhar para trás, para baixo, à esquerda e à direita e não apenas para frente, para cima e para o próprio umbigo. Antes da bicicleta já existia o cavalo e a água na torneira continua sendo um milagre para milhões de pessoas no mundo. Vivemos na Idade em que os pobres são obesos e os ricos sofrem de anorexia. Onde possuir um automóvel moderno é sinônimo de poder. Um mundo onde se vive para trabalhar e não ao contrário certamente sofre de alguma esquizofrenia.
O que poucos sabem é que entre esperar o ônibus e o trem entupido de almas estressadas ou enfrentar o trânsito engarrafado, tornou-se mais rápido mover-se com a bicicleta. Além de ser grátis, é um exercício sem custos adicionais para o corpo e um descanso para a mente. É como caminhar, apenas dez vezes mais rápido. É como meditar sem pagar curso de yoga. Saindo do trabalho você esquece o chefe e os problemas, monta na magrela e voa como o vento pelas ruas. Ultrapassando engarrafamentos quilométricos com um justo sorriso de vitória nos lábios, o pensamento voa com um cavalo selvagem em campos sem dono. Só não esqueça de usar a luz traseira. E cuidado com os japoneses malucos no trânsito.

Arquivo do blog

berlin, Germany
angelita kasper was born 1977 in três passos, brazil. she studied social communication - journalism at the universidade federal do rio grande do sul in porto alegre, brazil. yet in the nineties, angelita worked as freelance journalist, photographer and artist. since 2002 she lives in berlin and took part in several local art-projects and exhibitions.